Tonel, bote ou barrica. Saiba o que cada um acrescenta ao vinho

Você já deve ter ouvido falar que o afinamento em barris de carvalho confere ao vinho aromas mais expressivos e aquelas notas de tostado ou de baunilha; em boca, além de complexo, traz um paladar aveludado, macio e arredondado, harmonioso de beber.

Mas, você sabia que existem diferentes tamanhos de barris de carvalho para o envelhecimento dos vinhos? Vou te contar como chamamos aqui na Itália pois, claro, como estou morando aqui na Toscana e fazendo meu curso de sommelier, aprendo mais e mais a cada dia e então, compartilho com vocês meus novos conhecimentos.

Os italianos utilizam diferentes tamanhos e nomes para os barris de carvalho onde envelhecem os vinhos, e essa prática pode variar de acordo com a região e o estilo de vinho produzido. A seguir, te conto um pouquinho sobre os tamanhos e nomes mais comuns de barris de carvalho que eu tenho visto sendo utilizados aqui na Toscana.

Botte, Tonneau, Barrique, Caratello

  1. Botte: a “botte” é o maior tipo de barril de carvalho usado na Itália. Pode variar em tamanho, mas geralmente possui capacidade entre 3.000 e 8.000 litros. É comumente utilizado para o envelhecimento de vinhos tintos.
  2. Tonneau: o “tonneau” é um barril de tamanho intermediário, com capacidade entre 500 e 700 litros. Também serve muito bem ao envelhecimento de vinhos tintos de alta qualidade.
  3. Barrique: a “barrique” é o tipo de barril de carvalho mais conhecido e amplamente utilizado na produção de vinhos em todo o mundo. Por seu tamanho menor, ele acrescenta mais os aromas do carvalho ao vinho e, normalmente, é isso o que esperam os produtores que optam por esse tipo de envelhecimento. Possui capacidade entre 225 e 228 litros. Os mais comuns são de carvalho francês, mas ainda os barris da Slovenia são muito apreciados.
  4. Caratello: o “caratello” já é um barril bem diferenciado, que a maioria dos produtores, na verdade, não utiliza. Tem um tamanho médio, com capacidade em torno de 100 litros e é normalmente utilizado para o envelhecimento de alguns tintos ou brancos muito especiais, como os vinhos fortificados, licorosos ou de sobremesa, como o famoso vin santo intaliano.

 

Barris de envelhecimento do Vin Santo.
O caratello possui um tamanho ideal para envelhecer os famosos Vin Santo italianos.

 

Esses são os mais importantes nomes e tamanhos de barris de carvalho usados na Itália. É importante destacar que cada região produtora de vinho pode ter suas próprias tradições e preferências em relação ao uso de barris, e os enólogos podem escolher diferentes tamanhos e tipos de barris para alcançar os resultados desejados para seus vinhos.

O uso dos barris de carvalho é uma ferramenta importante no processo de envelhecimento do vinho, permitindo que os produtores acrescentem camadas de complexidade e sabores ao produto final.

Ok, mas quais são as diferentes influências que cada tipo de barrrica ou tonel acrescenta ao vinho ou, quanto cada um deles interfere no resultado final do vinho? Acompanhe:

Tonéis grandes

Menor influência da madeira: por ter uma relação maior de volume de vinho em contato com a madeira em comparação às barricas menores, a influência da madeira no vinho é mais sutil, resultando em aromas mais discretos de baunilha, tosta e especiarias.

Menor oxigenação: os tonéis grandes têm menos área de superfície em proporção ao volume de vinho, o que significa que há menos contato do vinho com o oxigênio. Isso resulta em uma oxidação mais lenta e controlada, preservando os aromas e sabores primários da fruta.

Aromas mais focados na fruta: devido à menor influência da madeira e da oxigenação mais moderada, os vinhos produzidos em tonéis grandes tendem a preservar melhor os aromas naturais da fruta. Eles podem exibir notas mais pronunciadas de frutas frescas e características varietais distintas.

Menor complexidade: enquanto os vinhos produzidos em tonéis grandes podem ser elegantes e equilibrados, eles geralmente têm menos complexidade aromática do que aqueles envelhecidos em barricas menores. Isso ocorre porque a microoxigenação e a interação com a madeira das barricas menores contribuem para maior complexidade e desenvolvimento de aromas secundários e terciários.

 

Cave na Itália com tonéis de carvalho.
Os tonéis, que normalmente podem ter de 500 a 700 litros.

Vinhos produzidos em barricas menores

Maior influência da madeira: as barricas menores, como as barricas de carvalho usadas em muitos vinhedos ao redor do mundo, têm uma proporção maior de área de superfície em relação ao volume de vinho, o que permite uma interação mais intensa entre o vinho e a madeira. Isso resulta em uma maior transferência de compostos aromáticos da madeira para o vinho, contribuindo com aromas de baunilha, coco, especiarias e notas tostadas.

Maior oxigenação: devido à maior relação de área de superfície e volume de vinho, as barricas menores proporcionam uma oxigenação mais rápida e intensa em comparação aos tonéis grandes. Essa oxigenação acelera o processo de envelhecimento e influencia a evolução dos aromas do vinho ao longo do tempo.

Aromas secundários e terciários: o contato mais intenso com a madeira e a oxigenação acelerada favorecem o desenvolvimento de aromas secundários e terciários no vinho. Isso inclui notas de envelhecimento, como aromas de couro, tabaco, especiarias envelhecidas e nuances tostadas.

Maior complexidade: os vinhos envelhecidos em barricas menores tendem a apresentar uma maior complexidade aromática devido à interação com a madeira e ao desenvolvimento de aromas secundários e terciários ao longo do tempo. Essa complexidade pode tornar o vinho mais interessante e sofisticado.

Recapitulando, eu finalizo dizendo que os vinhos produzidos em tonéis grandes e barricas menores apresentam diferenças aromáticas bem distintas. Os vinhos dos tonéis grandes tendem a enfatizar os aromas primários da fruta e são geralmente mais sutis e focados na pureza da fruta, enquanto os vinhos das barricas menores têm uma influência mais marcante da madeira, com maior complexidade e desenvolvimento de aromas secundários e terciários ao longo do envelhecimento – que ainda são os meus preferidos. A escolha entre esses métodos de envelhecimento dependerá dos objetivos do produtor e do perfil desejado para o vinho final.

Gostou das informações? Que tal vir conhecer algumas das vinícolas italianas que mantém ainda hoje grandes bottes ou tonnos em uso há mais de um século!!

E se quiser ler um artigo que escrevi sobre 3 rotas de vinhos na Toscana, clica aqui que tenho certeza que vc vai curtir.

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Cyntia Braga

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